A portuguesa que não anda à caça de subsídios
Duas horas e meia. Foi o tempo que eu estive, calmamente, à espera de ser atendida na Segurança Social. Ia entregar os papéis "para o desemprego"...
Ao fim de duas horas e meia, a funcionária que me atendeu perguntou:
- Ainda não foi ao Centro de Emprego?
Ao fim de duas horas e meia, a funcionária que me atendeu perguntou:
- Ainda não foi ao Centro de Emprego?
Grande falta, pelos vistos! Um crime, mesmo! Afinal, passaram 15 dias desde que eu fiquei sem emprego!
Pelos vistos, além do formulário da empresa, é preciso uma declaração do Centro de Emprego e um monte de fotocópias que eu, obviamente, não tinha... Descubro isto ao fim de uma tarde de espera e através de uma funcionária que olhava para mim como se eu tivesse cometido um crime hediondo! Afinal, meu Deus!, estou desempregada há 15 dias e ainda não fui ao Centro de Emprego: esse poço sem fundo de ofertas laborais... esse local sagrado que salva as vidas daqueles que nada têm!!! E, pior ainda!, desempregada e sem qualquer pista sobre como obter o bem-dito subsídiozinho do magnânimo Estado português!
Sou, de facto, uma criminosa! Indigna da minha nacionalidade!!!
"Atão", sou virgem na obtenção de subsídios?! Não! Não devo ser portuguesa!
E o que é uma tarde na vida de um desempregado? Nada! Não tenho motivos para estar furiosa! Tenho tanto tempo em mãos! Bem posso passar dias atrás de dias na Segurança Social e no Centro de Emprego.
- Vá lá já amanhã! - disse a senhora, deveras preocupada com o meu futuro "subsídiless"!
A ver se sigo o conselho! Não posso continuar a viver na clandestinidade!
Onde é que já se viu eu estar preocupada em refazer o meu currículo; em candidatar-me a empregos (cá e no estrangeiro); em escrever incessantemente (porque é isso que me dá prazer e é nisso que eu quero investir!); em desenvolver ideias e projectos dentro da minha área (Comunicação) para apresentar a alguém que possa estar interessado neles... NÃO! Eu devia ter acordado de madrugada no dia a seguir a ter perdido o meu miserável emprego (fim de contrato) e devia ter corrido para obter o bem-dito subsídio! Aliás, eu, como boa portuguesa, devia conhecer, de cór, as regras para a obtenção de QUALQUER subsídio!
Burra! Parva! Criminosa! Estúpida, GK! Não sabes que em Portugal não se vive? Subrevive-se! Como ousaste tentar fazer o contrário?!!
...Desculpem o desabafo... Deve ser o SPM...
GK
3 Comments:
Bendito desabafo!
Ñ tens que pedir desculpa, portanto.
Há uma ou duas semanas atrás, apareceu o responsável máximo pelo IEFP a dizer, mto orgulhoso, que os licenciados ficavam lá inscritos, no máximo, 8 meses.
Mas ñ é verdade, minha gente!
Arranjam é estratagemas. Assim, as estatísticas aparecem bonitinhas.
Tenho uma amiga lá inscrita há bem mais tempo.
Só que, a uma certa altura, fez uma daquelas formações do Fordesk (ou lá o que é) e o que é que acontece à inscrição?
É congelada.
Ou seja, depois disso volta tudo ao início.
Uau!
É o país que temos!
E quem tentar ser diferente, é olhado como criminoso...
nunca estive no desemprego, mas com tanto que há, devem pensar as tais senhoras que todos já sabem de cor os papeis que têm que preencher e os sítios onde têm de se dirigir... e temos de ir depressa, não pensar em mais nada, antes que acabe! deve ser o q pensam :-). desculpa o desabafo, mas estou a ficar farta deste País!
bjs
Olá
Bem, grande! Alguns dos assuntos que referiste podiam dar um postzinho autónomo!!!
Bom, apenas dois esclarecimentos...
A senhora da Segurança Social foi simpatiquíssima comigo. O que me indignou foi o facto de ela ficar quase assustada por eu AINDA não ter requerido o subsídio e falar como se fosse anormal eu não saber as regras. Mas ela foi generosa, prestável e simpática. EU é que me indignei com o que as aflições delas queriam dizer para este país! E, claro, pelo tempo de espera e mau funcionamento da instituição! Quer dizer: devia haver triagem! Eles partem do princípio que ninguém lá vai "perguntar coisas". Quem lá vai espera o tempo que tiver de esperar, seja por uma informação, seja por outra coisa mais complexa!
Segundo esclarecimento: quem escreve no Livro amarelo TEM de levar um papelinho para casa. Não tem de o exigir! É obrigatório darem-lho. Para os que não sabem, o Livro Amarelo tem três páginas: o original onde escreves (que vai para o Ministério correspondente) e duas páginas a seguir que têm papel químico, ou seja, o que tu escreves na primeira página é reproduzido nas duas seguintes. Uma é para ti. Outra é para a instituição sobre a qual reclamaste. E há um prazo legal para o Ministério te responder! Está previsto assim. Ao escreveres uma reclamação isto TEM de acontecer. É para isso mesmo que o Livro existe. Está programado para funcionar. E, por experiência própria, posso garantir que funciona. Também posso garantir que, quando pedes um Livro de Reclamações seja onde for levas com duas horas de conversa na esperança de que desistas. Se não desistires, ele funciona! E se não to derem, chamas a polícia! E também funciona, posso garanti-lo... por experiência própria...
Bj.
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